Capítulo 17: Aquela véspera de Natal
Nos capítulos anteriores...
Encostada na limusine,
usando um longo vestido Armani, calçando Prada e carregando nos olhos óculos
escuros. Helena espiou por alguns minutos uma mulher que jantava em um
restaurante classe baixa, localizado no subúrbio Paulista. Ao lado de Dupré, a
empresária estava certa de que aquela era uma de suas netas perdidas.
–Tem certeza senhora? –Indagou Dupré,
espantado.
–Absoluta, essa é a Esther, a filha roubada do
meu menino... Que agora se chama Soninha Berenice da Silva.
–E o que a senhora fará a respeito disso?
–Incluí-la no testamento e trazer a público
essa bomba que surpreenderá o mundo. Escreva no seu caderninho de anotações o
slogan que você verá frequentemente nos noticiários, “Do subúrbio ao paraíso,
Esther Gouveia retorna as origens!”.
Boquiaberta com todo o acontecido, Soninha
Berenice não conseguiu encarar a mãe e muito menos olhar seu reflexo no
espelho. Que espécie de vida ela estaria vivendo? Uma mentira? Perguntas como
estas brotavam nos pensamentos de Soninha, tentando encontrar um verdadeiro significado
para todo o acontecido.
–Aonde você vai? –Indagou Leda.
–Eu vou descobrir quem eu sou realmente.
–Respondeu Soninha.
Durante a espera pelo
ônibus, a jovem discou em seu aparelho celular os números fornecidos no
testamento. Um homem com sotaque francês atendeu, era Dupré, o mordomo de
Helena. Soninha contou a ele que sabia de toda a verdade e que seu número de
celular e seu nome estavam no testamento, caso ela precisasse de respostas.
–Soninha? –Indagou Dupré, chegando por detrás
da moça. –Sou François Dupré.
–Oi... –Respondeu Soninha, assustada. –O
sotaque francês é o mesmo do telefone...
–Você irá saber toda a verdade sobre quem você
realmente é. [...]
O mundo havia parado
com aquela revelação, Soninha estava intacta fitando todos com um olhar
incrivelmente idêntico ao olhar de soberania que fora muitas vezes utilizado
por Helena. Rachel e Silvana se fitavam constantemente, tentando entender o que
acontecia naquele momento. João Pedro se sentiu tão enganado, quanto o resto do
mundo, que resolveu esperar até o “espetáculo” acabar. A herdeira usava um
vestido Prada legítimo da cor vermelha para combinar com o batom da mesma cor,
que a deixava com muito poder.
–Acreditem, eu estou tão espantada quanto
vocês e eu só aceitei revelar a minha identidade, por que é difícil ser quem
você não é. Faz mais ou menos dois meses que eu descobri viver uma mentira e...
–Soninha foi interrompida por um jornalista.
–A senhora veio para substituir a dona Helena
na fábrica?
–Lógico que não, não vim tirar o lugar de
ninguém.
–Quando mesmo você iria me contar toda essa
palhaçada? –João Pedro se aproximou do palco e fitou Soninha nos olhos. –Se
passar por uma camareira Soninha? Ou será que eu devo te chamar de Esther? Bom,
seja lá qual for o seu nome, eu espero que você viva bem junto dos Gouveia.
–João Pedro eu corria risco de vida! –Exclamou
Soninha. –Por favor, tente entender.
–Acho melhor agente encerrar por aqui, não
será bom um escândalo para você logo agora que você se integrou a família.
Também acho que depois de hoje, não temos mais nada.
João Pedro virou as
costas para Soninha e foi embora. A expressão de desespero da herdeira foi tão
notória, que os paparazzis caíram em cima e fotografaram-na diversas vezes. Nos
jornais da véspera de natal, a noticia “João
Pedro, ex-marido de Silvana Gouveia, se envolveu com herdeira perdida da
família” ofuscou o trenó do papai Noel. Soninha deixou o evento minutos
após o amado, ela foi levada para a mansão por Dupré, onde passou a noite. A
manhã seguinte dentro do palacete foi repleta de surpresas, Joaquim e Rachel
chegaram para o café da manhã, bem na hora em que Dupré mandou a empregada
servir a mesa.
–Podemos nos juntar a vocês? –Indagou Rachel,
surpreendendo todos.
–Imaginei que viesse. –Ou quase todos.
–Junte-se a nós, o café está fresco.
–Obrigada pela gentileza Dupré... Mas e a
nossa querida herdeira, onde está?
–Logo ela deve estar descendo.
–Rachel você sabia que a nossa priminha está
dormindo na suíte que era da vovó? –Indagou Silvana. –Essa daí pelo visto não
dá um ponto sem nó.
–Não seja venenosa! –Exclamou Dupré. –Você
gasta uma fortuna e não tem um emprego fixo. O dinheiro para os seus produtos
de beleza não caem do céu, mas sim vem do lucro que a Fábrica gera.
Soninha apareceu
descendo as escadas como um anjo, vestindo um vestido de seda cor azul suave.
Ela sabia que essa manhã e as seguintes não seriam nada fáceis, principalmente
por que seu amado era o ex de sua prima.
–Bom dia a todos. –Desejou Soninha, sorrindo
timidamente. –Antes de mais nada, eu gostaria de te dizer Silvana que eu não
sabia que o João Pedro era seu ex-marido. Soube um dia depois do beijo na
boate.
–Não se preocupe, eu não sinto raiva de você.
–Disse Silvana, que desviou o olhar para Dupré. –Sinto raiva é do Dupré, que
sabia desde o começo a verdade, mas escondeu das lentes das câmeras para não
vir a público.
–E o que você queria que eu fizesse? –Indagou
Dupré. –Eu não podia deixar a notícia vazar antes do tempo.
–Você deveria ter pelo menos dito a verdade
para mim, mas em vez disso me fez pensar que esconder todo aquele escândalo era
para o meu bem. Realmente... Essa família é um ninho de cobras, da qual eu
estou me desligando.
–E faz muito bem, veja o meu caso, me casei e
tratei de sair dessa mansão o mais rápido possível. –Disse Rachel, sorrindo.
–Não tenho sangue de barata.
–Vocês duas irão rever seus conceitos depois
do doutor Candela ler o testamento. –Dupré sorriu para ambas docemente. –Não
perca tempo, doutor.
Candela, o advogado
que Dupré contratara, entrou na sala de jantar do palacete, segurando na mão
esquerda uma maleta preta, da qual ele pôs em cima da mesa e abriu logo em
seguida. O advogado era alto, da pele morena, cabelos pretos bem lisos, de uma
aparência muito bonita, apresentando ter seus trinta e poucos anos. Ele retirou
de dentro da maleta um envelope, contendo o testamento e uma carta de Helena,
da qual dizia o seguinte:
“A minha meta de vida foi construir um Império tão forte e tão poderoso
que nem nada e nem ninguém pudesse derrubá-lo, passei anos me perguntado por
que Deus tirou de mim meus filhos e a minha neta, mas foi em um aprendizado
muito longo que eu aprendi ao lado de Dupré, que ele escreve certo por linhas
tortas. Descobri então que Esther não havia morrido, como eu sempre imaginei.
Se eu não estiver entre vocês quando ela voltar, eu peço com carinho que a
tratem do jeito merecido. Também gostaria de dizer a Silvana o quanto eu a amo,
assim como sinto o mesmo pela Rachel. Dupré é meu amante sem dúvidas e o Wagner
é o filho que eu nunca tive. Posso fazer um pedido Esther? Desfrute de todo o
glamour proporcionado a nós mulheres, conheça o mundo, encontre novos amores,
faça da vida um jogo delicioso e divertido de ser jogado. E por falar em jogo,
vocês três acabaram de entrar em um. A herança dos Gouveia é estimada em mais
de um bilhão de dólares, mas será mantida intacta até o momento certo. Ambas
terão de provar merecimento e capacidade, porém infelizmente apenas uma ocupará
o meu lugar na fábrica. Saibam jogar, usem toda a inteligência e desfrutem das
armas mais perigosas que estiverem ao redor de vocês, mas lembrem-se, nem tudo
são flores, portanto eu lhes desejo boa sorte no jogo da vida.”
Após Candela ler a
carta, as herdeiras disseram a ele que não era necessário ler o testamento, já
que sabiam que Helena havia pregado nelas mais uma peça do destino. Um jogo
havia sido oferecido, mas como em todo jogo, existe apenas um vencedor.
–Um bilhão de dólares... –Disse Rachel, ainda
incrédula. –Um bilhão...
–Que vença a melhor. –Dupré levantou da mesa e
foi para o jardim.
O sol havia sido
apagado pela escuridão do céu e substituído pelo brilho da lua e das estrelas.
Já eram aproximadamente nove horas da noite no Rio de Janeiro, Pedro havia levado
Wagner para a Lagoa Rodrigo de Freitas, a fim de apreciarem a belíssima e
gigantesca árvore de Natal montada todos os anos.
–E então paulistano? –Indagou Pedro. –Está
curtindo a cidade maravilhosa.
–Demais... –Respondeu Wagner. –Essa árvore de
Natal me lembra meu pai, ele me trouxe aqui junto com a minha mãe na primeira
vez que foi montada. Acredita que fomos de pedalinho e ficamos bem pertinho da
árvore?
–Pois então vamos de pedalinho também!
–Hoje eu tenho medo.
–Eu te protejo.
Depois de muito
hesitar, Wagner cedeu aos pedidos exagerados de Pedro, alguns minutos depois
ambos já estavam no pedalinho azul e cada vez mais próximos da árvore. O céu
estava coberto de estrelas e a lua estava cheia e muito brilhante. Pedro viu
uma estrela cadente e mandou Wagner para fazer um pedido.
–O que foi que você pediu? –Indagou Pedro.
–Se eu contar, não vai se realizar...
–Respondeu Wagner.
–Dependendo do que seja eu realizo para você.
–Então terá de realizar. Eu pedi para você
nunca deixar de ser essa pessoa incrivelmente especial.
–E o que é ser exatamente especial?
–Especial para mim.
–Eu juro que nunca deixarei de ser, juro por
todas as estrelas cadentes do mundo.
–Confio no seu juramento.
–E o que te dá tanta certeza que eu irei
cumprir?
–Seus olhos, estão firmes, não tremem... E
algo me diz que você não irá me decepcionar.
Wagner deitou no
ombro esquerdo de Pedro, onde ficou... Apreciando a árvore de natal da lagoa e
as estrelas.